Jair é um homem de uma elegância rara. Assim como sua loja, que está de mudança da Rua Dr. Melo Alves para a Rua da Consolação. A loja é vítima da inexorável modernização da cidade de São Paulo, Jair não. Seus lustres não são afetados por modernismos, concretismos ou minimalismos. Ali o bronze, o latão e o cristal se unem em peças que, se não são eternas, parecem.
Antes de continuar nosso tour vou valorizar meu jornalismo investigativo um pouco. Este blog se alimenta da internet e principalmente de dicas. E a dica de fotografar o Jair veio de uma amiga que trabalha em um dos mais famosos escritórios de arquitetura de interiores de São Paulo. Quando ouvi fiquei logo interessado. Sou fotógrafo, penso imagens, imagino. E enquanto ouvia sobre Jair Lustres Antigos imaginava um lugar com uma atmosfera quase mágica, de centenas de mini-arco-íris projetados pelos cristais dos lustres flutuando na poeira típica dos antigos ateliers. Mas quem disse que o Jair estava a fim de ser fotografado? A Vânia, que trabalha com ele aparentemente desde que isso era ilegal pelo código da criança e do adolescente foi simpaticíssima ao telefone, entendeu na hora o projeto, coisa até então inédita. Me disse que ia falar com o Jair e que eu retornasse a ligação na semana seguinte, pois ele vinha de uma gripe brava. Terça-feira toquei a ligar para o Jair, que felizmente já estava melhor mas, mesmo tendo sido informado do projeto, ainda não se manifestara a respeito. Senti que ia ser difícil. Falei que voltaria a ligar dali a uma semana. Vânia se compungiu, sinceramente querendo me ajudar. Na outra terça, aproveitando que meus pais moram por perto, que lá o almoço geralmente é de primeira e ainda tem vaga para visitante, resolvi ir pessoalmente ao Jair depois do cafezinho, lá pelas duas.
Falei que o Jair é um sujeito elegante. Deixe-me ilustrar. Cheguei de surpresa na sua loja/atelier e sinceramente, na terceira terça-feira, esperava ter que lidar com alguém arredio à ideia de ser fotografado. Não que tenha sido recebido por um exibicionista, mas ele parou o que estava fazendo, me ofereceu assento em poltrona italiana de veludo e, quando percebi, já eram cinco da tarde. Falamos de arte, de cristais, do bairro, da cidade, do mundo. Atravessamos a rua e tomamos café no botequim do Alemão, onde falamos com o Alemão sobre botequins e superstições sertanejas (Alemão é de Pernambuco, eu acho). Não lembro de termos falado das fotos. Ao final, me levantando, deixamos marcado para a terça seguinte às três. Depois de sete dias tudo que eu imaginei quando ouvi sobre o lugar ficou pequeno. Tinha mais luz, mais cristais, mais bronze e muito mais gentileza. Só não tinha nenhuma poeira na loja, embora desse para ouvir as máquinas demolindo o resto do quarteirão do outro lado da parede.
Vai lá: Jair Lustres Antigos - Rua Dr. Melo Alves, 39 - tel: (11) 3082-8613